O príncipe obra notável, a primeira foi precisamente a comparação entre situações dispersas no tempo, sendo a segunda o realismo da análise.
O livro trata de modo aparentemente pouco pretensioso de grandes temas: a mudança de uma época e a ruptura de paradigmas de interpretação. Não foi por acaso, portanto, que O príncipe se tornou um marco. Ele exemplifica, de certa maneira, a díade famosa da virtù e da fortuna. Maquiavel, não tendo alcançado a relevância política que almejava, teve a sorte de viver em uma época de forte transição — a passagem do século XV ao XVI, do fortalecimento de estruturas governamentais pós Idade Média — e lançou um olhar novo sobre a política. Se não dispunha de uma das condições que prognostica como chaves do êxito político, pois não teve a fortuna de provir das grandes famílias da época nem dispor de recursos materiais ou bélicos para alcançar o poder, teve a audácia intelectual de romper paradigmas de interpretação — agiu nesse sentido como um leão. E teve a astúcia para, ao fazê-lo, não se dar ares de grande renovador; dissimulou seus objetivos como uma raposa.