A toxicologia é um ramo da ciência que estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas em organismos vivos e tem como objetivos a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das intoxicações. É uma ciência aplicada e multidisciplinar, implicando conhecimento em diversas áreas, como bioquímica, química, fisiologia, genética, matemática, farmacologia, entre outras. Há diversas áreas que subdividem a toxicologia, as quais tratam de propósitos específicos e de estudos direcionados para determinado grupo de substância, matriz biológica e organismo vivo. São exemplos a toxicologia ambiental, experimental, clínica, de alimentos, forense e ocupacional. A toxicogenômica e toxicogenética são novos campos emergentes que estão mudando a maneira como pensamos sobre toxicantes e como eles afetam a saúde humana (HAYES; TOUWAIDE, 2014). Cada vez mais evidencia-se a necessidade de toxicologistas multidisciplinares na sociedade atual. O conhecimento sobre plantas tóxicas, animais peçonhentos e venenos diversos sempre foi crucial para a sobrevivência, desde os tempos mais remotos, o que faz da toxicologia uma das ciências mais antigas. O objetivo era evitar o consumo acidental e utilizar tais venenos para matar os animais da caça ou os inimigos. Caçadores da América do Sul costumavam colocar nas pontas de suas flechas a planta Strychnos toxifera (curare), a fim de matar suas presas por paralisia dos músculos do sistema respiratório. Além disso, costumavam graduar a força dos diferentes venenos por meio da contagem do número de árvores que o macaco, após ser atingido pela flecha, conseguia pular antes de cair. Se o macaco lograsse pular três árvores, o veneno era considerado fraco para caça (AGGRAWAL; 2016). A toxicologia evoluiu rapidamente no século XX. As tragédias que ocorreram devido a administração de novos medicamentos tornaram a avaliação de toxicidade parte obrigatória dos estudos prévios à comercialização, assim como o controle rígido de qualidade em todo o processo de fabricação. Em 1937, o antimicrobiano sulfanilamida foi vendido nos EUA na forma de xarope, utilizando o dietilenoglicol como excipiente. Menos de um mês após chegar às farmácias, notificou-se a morte de aproximadamente 100 pessoas, principalmente crianças, em decorrência do uso do produto. À época, não se pensou em testar a toxicidade do dietilenoglicol (HAYES; TOUWAIDE, 2014). Outro evento marcante para a toxicologia clínica foi o nascimento de milhares de crianças com defeitos congênitos ao redor do mundo, devido à ingesta de talidomida por gestantes entre 1957 e 1961. O fármaco foi retirado do mercado em 1962. No Brasil, no entanto, retornou em 1965 como tratamento para lesões de pele causadas pela hanseníase, e permanece até hoje.