Dizer que um pensador é um clássico significa dizer que suas idéias permanecem. Significa dizer que suas idéias sobreviveram ao seu tempo e que são recebidas por nós com parte da nossa atualidade. Não pretendemos afirmar, com isso, que os clássicos se coloquem fora da história. Pelo contrário, são, como frequência, os que pensaram, de modo mais profundo, os temas de sua própria época. E foi precisamente porque pensaram de modo radical o seu tempo que sobreviveram a ele chegaram até nós. Os clássicos não são atemporais. Eles são parte da nossa atualidade porque são parte das nossas raízes. São, por assim dizer, a declaração da nossa historicidade.
Este volume reúne os clássicos do pensamento político do século XIX. Alguns, como Burke e Kante, são, na verdade, de fins do século XVIII. Mas entendemos que eles deveriam estar aqui, junto com Hegel, Tocqueville, Stuart Mill e Marx, porque guardam com estes um traço comum, tipico a todo o pensamento político do século XIX. Assim como a marca forte do pensamento dos séculos
XVII e XVIII, desde Locke até Montesquieu, foi a de pensar um mundo novo que nascia sob o impacto das revoluções inglesas, a de 1640 e a de 1688, a marca mais forte do pensamento político do século XIX é a de refletir sobre a época europeia criada pela Revolução Francesa e sobre a sociedade criada, primeiro na Inglaterra e depois em toda a Europa ocidental, pela primeira REvolução Industrial. Se as revoluções inglesas abrem o caminho do liberalismo, a Revolução Francesa o consolida. E a Revolução Industrial assinala o surgimento de uma sociedade nova, apoiada na "maquinofatura", a qual, já em seus inícios, embora ainda misturada com fortes sobrevivências da sociedade rural e aristocrática que a precede, aponta para as questões que haveriam de levar ao surgimento do pensamento e do movimento socialistas.
