Sexologia na América Latina: emergência e desenvolvimento de um campo profissional A sexualidade tem sido um dos vetores fundamentais de entendimento das relações sociais, especialmente no contexto da modernidade, quando o sexo se converteu em foco de verdade sobre o indivíduo, como muitos autores já demonstraram. O interesse nesse domínio da vida do sujeito deu origem a uma série de saberes, alguns deles muito bem ancorados em estruturas de conhecimento legitimadas – como é o caso da medicina1 –, enquanto outros se distinguem pelo caráter a princípio inusitado de suas concepções.2 Embora seja evidente a imensa multiplicação de especialidades dedicadas a estudos sobre sexualidade, pouco tem sido feito no sentido de investigar como este campo se estrutura hoje em dia. Nesse contexto, o projeto de pesquisa “Sexualidade, ciência e profissão na América Latina” pretende preencher parte dessa lacuna. Coordenado pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (Clam) do Instituto de Medicina Social / IMS da Uerj, o projeto é fruto de uma 1 Ver sobre isso Davidson (1987). 2 Ver Piscitelli, Gregori e Carrara, 2004. parceria com o Inserm (Institut National de Santé et Recherches Medicales – França), através da Equipe Inserm U 1018 “Santé sexuelle et medicalisation de la sexualité”,3 Tendo como objetivo mapear o campo profissional da sexologia em cinco países da América Latina. Para tanto, foram constituídas parcerias com as seguintes instituições: Universidad Peruana Cayetano Heredia, Grupo Interdisciplinario de Estudios de Género de la Universidad Nacional de Colombia, Centro de Estudios de Estado y Sociedad (Cedes, Buenos Aires), Universidad Católica del Norte (Chile) e Universidad Autónoma Metropolitana-Xochimilco (México). A investigação compreende um mapeamento geral do campo, identificando as principais associações, instituições, cursos de formação, grupos de pesquisa, profissionais, eventos e publicações, além de entrevistas em profundidade com profissionais de referência na área. No caso do Brasil, também foi aplicado um survey com profissionais que se identificam como sexólogos.4