A prática de enfermagem baseada na evidência afigura-se como uma forma rigorosa, metódica e estruturada de promover práticas profissionais que, em regra, assumir-se-ão como as mais adequadas e seguras, otimizando os recursos disponíveis, considerando o envolvimento e participação de todos os intervenientes nos complexos processos terapêuticos e de tomada de decisão (PEREIRA; CARDOSO; MARTINS, 2012). Subsequentemente são expectáveis ganhos em saúde e melhores resultados para as pessoas, para os profissionais e ainda para as próprias organizações. Pensar numa prática e numa enfermagem baseada na evidência é um enorme desafio e uma exigente tarefa porquanto implica equacionar a epistemologia das ciências de enfermagem na senda dos trabalhos exploratórios e pioneiros de Carper (1978) e posteriormente de Fawcett et al. (2001) que tipificaram este conhecimento em quatro grandes dimensões, a saber: empírico, pessoal, estético e ético e isto em conjugação com o primado da racionalidade técnica, articulando uma ciência aplicada com uma ciência humana prática (QUEIRÓS; BARBIERI-FIGUEIREDO, 2015). A prestação de cuidados de saúde baseados na evidência é um imperativo das sociedades modernas e enquadra-se num contexto em que os cidadãos e comunidades apresentam desafios clínicos de maior complexidade exigindo respostas por parte dos profissionais e das organizações com maior qualidade e elevada segurança, num quadro de significativas restrições de recursos humanos, materiais e técnicos implicando níveis superiores de eficácia, eficiência e efetividade nas intervenções em saúde. Neste âmbito é essencial avaliar atitudes, barreiras, conhecimentos, competências e práticas por parte dos enfermeiros relativamente a uma prática baseada na evidência (PBE) reconhecendo-se que é ainda grande a distância entre a produção do conhecimento e a posterior implementação de intervenções baseadas nas melhores evidências disponíveis (DICENSO, 2003; GROL; GRIMSHAW, 2003; EASTABROOKS; WINTHER; DERKSEN, 2004; FINEOUT-OVERHOLT; JOHNSTON, 2006; BOSTRÖM et al., 2009; SQUIRES et al., 2011B; MELNYK et al., 2014) sendo esta uma realidade com que os profissionais se confrontam em permanência, de cariz complexo e com diversas etiologias, envolvendo vários níveis de decisão, espetros de intervenção e componentes que percorrem um gradiente que oscila entre uma dimensão estritamente individual até uma dimensão mais vasta de âmbito organizacional (KITSON et al., 2008; LUNDMARK, 2008; KAPLAN et al., 2014; MELNYK et al., 2014; FERRAZ; PEREIRA; PEREIRA, 2019). Em Portugal é residual a produção a este nível, nomeadamente de estudos que procurem avaliar atitudes, competências e práticas profissionais em relação à PBE sendo que para se sustentar o presente capítulo o autor baseou-se nos principais resultados obtidos no estudo principal que integra o conjunto de trabalhos realizados no âmbito do programa de Teoria e Prática de Enfermagem: da atenção básica à alta complexidade 18 doutoramento em Ciências de Enfermagem realizado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto – Portugal (PEREIRA, 2016)