LEONIDAS DONSKIS: Zygmunt Bauman não é um sociólogo típico. É um filósofo do cotidiano. O tecido de seu pensamento e de sua linguagem é composto de uma diversidade de fios: uma teoria superior; sonhos e visões políticas; as ansiedades e os tormentos dessa unidade estatística da humanidade, o homem ou a mulher em sua pequenez; a crítica astuta – afiada como uma lâmina e, além disso, implacável – aos poderes do mundo; e uma análise sociológica das ideias tediosas, da vaidade, da busca incansável de atenção e popularidade, e também da insensibilidade e autoilusão dos seres humanos. Não admira, a sociologia de Bauman é acima de tudo uma sociologia da imaginação, dos sentimentos, das relações humanas – amor, amizade, desespero, indiferença, insensibilidade – e da experiência íntima. Passar facilmente de um discurso para outro tornou-se traço característico de seu pensamento. Talvez ele seja o único sociólogo do mundo (e Bauman é um dos grandes sociólogos vivos, ao lado de Anthony Giddens e Ulrich Beck) e simplesmente um dos maiores pensadores (com Umberto Eco, Giorgio Agamben, Michel Serres e Jürgen Habermas) que não apenas usa ativamente a linguagem da alta teoria. Ele salta com habilidade dessa linguagem para a da publicidade, dos comerciais, mensagens de texto, mantras dos oradores motivacionais e dos gurus do mundo empresarial, clichês e comentários no Facebook; e depois retorna à linguagem (e aos temas) da teoria social, da literatura moderna e dos clássicos filosóficos. Sua sociologia busca reconstruir todas as camadas da realidade e tornar sua linguagem universal acessível a todos os tipos de leitor, não apenas ao especialista acadêmico. Seu poder discursivo e sua capacidade de decifrar a realidade realizam essa função da filosofia que André Glucksmann compara aos entretítulos do cinema mudo, os quais ajudavam tanto a construir quanto a revelar a realidade retratada. Bauman é reconhecidamente eclético do ponto de vista metodológico. A empatia e a sensibilidade são para ele muito mais importantes que a pureza teórica ou metodológica. Determinado a andar na corda bamba para atravessar o abismo que separa a alta teoria dos reality shows, a filosofia dos discursos políticos e o pensamento religioso dos comerciais, ele sabe muito bem como ficaria comicamente isolado e unilateral se tentasse explicar nosso mundo com as palavras da elite política e financeira, ou usando apenas textos acadêmicos herméticos e esotéricos. Ele aprendeu sua teoria e foi muito influenciado, primeiro, por Antonio Gramsci e, depois, profundamente, por Georg Simmel – tanto pela teoria do conflito quanto pela concepção da vida mental (Geistesleben) e pela filosofia da vida (Lebensphilosophie). Foi essa filosofia da vida dos alemães – novamente, nem tanto a de Friedrich Nietzsche, mas a de Ludwig Klage e Eduard Spranger (em particular sua concepção de Lebensformen, “formas de vida”) – que forneceu a Bauman muitos de seus temas teóricos e modos de teorização.