BELEZA - BELO—No diálogo H PIAS O MAIOR, Platão formulou muitas das questões que depois se levantaram, em estética e filosofia geral, acerca da natureza do belo e da beleza. Ao contrário de Hípias, para o qual o belo é, em suma, o nome comum dado a todas as coisas belas (o ouro, o útil, o grato, etc), Platão defende que o belo é aquilo que faz que haja coisas belas. O belo é, pois, para Platão, independente, em princípio, da aparência do belo: é uma ideia análoga às ideias de ser, de verdade e de bondade. Ao dizer “análoga”, quer-se destacar que não pode simplesmente confundir-se a verdade com a beleza. Platão adverte que dizer de algo que existe e que é verdadeiro equivale a afirmar, no fundo, a mesma coisa. Em contrapartida, não é exactamente a mesma coisa dizer de algo que existe e que é belo. Por isso a ideia de beleza possui, a partir de Platão, certas propriedades que outros transcendentais não possuem; como indica Platão no FEDRO, enquanto na terra não há imagens visíveis da Sabedoria há, em contrapartida, imagens visíveis da beleza. Quer dizer que a participação das coisas terrestres no ser verdadeiro está duplamente afastada deste, enquanto a participação das mesmas coisas no belo em si é directa. A verdade não reluz nas coisas terrestres, enquanto a beleza brilha nelas. Isto não significa que a contemplação da Beleza seja uma operação sensível. No FILEBO, Platão chega à conclusão de que aquilo que chamamos beleza sensível deve consistir em pura forma; linhas, pontos, medida, simetria e até “cores puras” são os elementos com que é feito o belo que contemplamos. Acrescenta-se a isso, conforme aponta nas LEIS, a harmonia e o ritmo no que diz respeito à música, e às boas acções, no que diz respeito à vida social. Além disso, embora haja sempre a mencionada diferença entre o ser verdadeiro e o ser belo, não se pode negar que o segundo conduz ao primeiro: a célebre “escada da beleza” de que fala Platão no BANQUETE, é a expressão metafórica (ou mítica) desta concepção do belo que o converte “no acesso ao ser”. Depois de Platão foi tão considerável o número de definições que se deram do belo que se torna necessário proceder a uma classificação das mesmas; escolheu-se, entre muitos outros, o método que classifica as opiniões sobre o belo segundo o predomínio de uma disciplina filosófica ou, melhor dizendo, de uma determinada linguagem. Consideramos que há vários modos de falar do belo, os quais não são independentes uns dos outros, pois costumam combinar-se, mas as definições mais habituais são determinadas em grande parte pelo predomínio de um deles: I. O PONTO DE VISTA SEM NTICO: consiste em averiguar quais as expressões sinónimas de “x é belo”. Das inúmeras sinonímias que se podem estabelecer (“x é desejável”, “x é desejado”, “x é perfeito”, etc), cabe destacar “x é grato”, pois envolve a discussão entre as duas grandes posições: a que defende que os juízos de beleza são subjectivos e a que afirma que são objectivos. II. O PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO: consiste em examinar o problema da natureza do belo de acordo com a análise dos processos psicológicos por meio dos quais formulamos juízos estéticos. Quando se entende o psicológico em sentido colectivo, o modo de falar psicológico pode converter-se em modo de falar social: a natureza do belo depende então do que se entenda por essa sociedade.