A primeira versão desta Odisseia vertida para língua portuguesa veio a lume em maio de 2003 (no dia, por sinal, em que o seu tradutor fez 40 anos), numa edição da Cotovia que muito deveu ao cuidado do saudoso André Jorge. No Prefácio que escrevi na altura, afirmei que «resisti à tentação de salpicar o texto com notas», opção que, mal o livro foi publicado, originou até hoje um fluxo imparável de cartas e de emails da parte das muitas leitoras e dos muitos leitores a quem as notas, afinal, teriam feito falta. Eu próprio comecei a sentir, cada vez mais, que o trabalho que publicara em 2003 estava incompleto. Volvidos 15 anos (mais cinco do que os anos levados pelo herói da Odisseia para chegar de Troia à sua Ítaca), o convite de Francisco José Viegas para publicar uma nova edição sob o selo da Quetzal permitiu levar o trabalho até ao fim. Cada canto da Odisseia está agora apetrechado de um aparato de notas e de comentários, que visam esclarecer, em primeiro lugar, a estrutura narrativa do poema, mas também problemas de teor linguístico e geográfico, assim como a inter-relação da Odisseia com a Ilíada (entre muitos outros assuntos). A Introdução ao volume foi reescrita de modo a refletir o estado atual dos estudos sobre a Ilíada e a Odisseia; e acrescentei, ainda, um segundo texto introdutório, intitulado «O funcionamento do verso homérico», cuja leitura recomendo porque lança as bases da problemática mais técnica que surgirá, por vezes, nas notas à tradução. Também atualizei, naturalmente, a Bibliografia. Outra diferença desta nova edição relativamente às anteriores é que os versos desdobrados na tradução estão agora assinalados na margem com a indicação «b» a seguir ao número do verso1 .