A partir de uma leitura epistemológica de vários escritos do psicólogo estadunidense, Carl R. Rogers, em que ele declara “afinidades” teóricas com o pensamento do filósofo dinamarquês, Sören Kierkegaard, o objetivo maior deste estudo é confrontar os conceitos de “Indivíduo”, delineado por Kierkegaard, e o conceito de “Pessoa”, formulado por Rogers, em suas similaridades e diferenças. Contribuindo na constituição de mais uma faceta da epistemologia da Abordagem Centrada na Pessoa (criada e desenvolvida por Rogers), é também intenção desta pesquisa, aproximar estes conceitos apoiando-se na hipótese de que a suposta influência kierkegaardiana na obra de Rogers não é tão significativa como ele (Rogers) e, sobretudo, seus comentadores, querem fazer crer. Estando Kierkegaard numa dimensão filosófica e epistemológica de um cristianismo pietista e angustiado, em que sua meta maior era mostrar o verdadeiro “devir cristão”, e que o “Indivíduo” é aquele que escolhe existir ligado subjetivamente numa relação tensionada com Deus, dificilmente poderia sua filosofia servir de base em outro contexto tão heterogêneo como era o da psicologia humanista norteamericana, onde Rogers tinha seu espaço e que considerava a “Pessoa” como um “organismo digno de confiança” que guarda em si mesma as potencialidades de se construir em todas as suas esferas e em direção a uma existência congruente e autêntica. Aproximando os conceitos de “Indivíduo” e de “Pessoa” em suas semelhanças e diferenças, descrevendo até onde a influência de Kierkegaard no pensamento rogeriano é verídica, pretende-se mostrar o lugar de fato da filosofia kierkegaardiana na construção da psicologia centrada na pessoa efetuada por Rogers.