– Porque estás a chorar, Ngunga? – perguntou Nossa Luta. – Dói-me o pé. – Mostra então o teu pé. Vamos, para de chorar e levanta a perna. Ngunga, limpando as lágrimas, levantou a perna para a mostrar ao Nossa Luta. Este olhou para ela, depois disse: – Tens aí uma ferida. Não é grande, mas é melhor ires ao camarada socorrista. – Não quero. – Se não te tratares, a ferida vai piorar. A perna inchará e terás muita febre. – Não faz mal – disse Ngunga. – Não gosto de apanhar injeções. – És burro. Agora, o socorrista não te vai dar injeção nenhuma. Mas depois, se tiveres uma infeção, então precisarás de injeções. Que preferes? – O socorrista está longe. – Acaba com as desculpas. Vai lavar-te e parte. – O dia está a acabar. Em breve será noite. – Ainda bem. Dormes lá. Amanhã és tratado e voltas. Qual é o problema? Ngunga abanou a cabeça, mas não refilou. Foi lavar-se e preparou comida para a viagem. Ngunga é um órfão de treze anos. Os pais foram surpreendidos pelo inimigo, um dia, nas lavras. Os colonialistas abriram fogo. O pai, que era já velho, foi morto imediatamente. A mãe tentou fugir, mas uma bala atravessoulhe o peito. Só ficou Mussango, que foi apanhada e levada para o posto. Passaram quatro anos, depois desse triste dia. Mas Ngunga ainda se lembra dos pais e da pequena Mussango, sua irmã, com quem brincava todo o tempo. Quando o sol começava a desaparecer, Ngunga partiu para a aldeia do socorrista. Conhecia bem o caminho, não poderia perder-se. Mas a noite ia cair e teria de dormir antes de lá chegar. Ngunga, porém, estava habituado. A bem dizer, não tinha casa. Vivia com Nossa Luta, por vezes; outras vezes, se lhe apetecia, ia viajar pelos kimbos, visitando amigos e conhecidos. Mas para quê avançar de mais? Temos tempo de conhecer a vida do pequeno Ngunga